segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Nono Capítulo

O sol do meio-dia já brilhava no alto do céu sem nuvens. Estava um dia ameno, até agradável para o mês frio de Novembro. Apesar do calor que se fazia sentir já se conseguia sentir o espírito natalício que inundava a baixa Lisboeta. A crescente crise económica que se fazia sentir apressava a colocação da decoração de Natal e as promoções marcavam todas as montras da rua Augusta. O cheiro a castanhas assadas à porta da estação fluvial do Terreiro do Paço, transmitia sensações quentes e agradáveis que Sofia adorava. Era uma época que a deixava feliz. Fora as preocupações do dia-a-dia e o stressante projecto a que agora se proponha, as recordações de Natais em família e Passagens de Ano com amigos enchiam-na de desejos e sonhos. Sofia não se achava uma sonhadora, mas aquela ocasião mexia particularmente com ela, aquela sensção boa deixava-a alegre.
O apito do barco catamarã acordou-a e transportou-a de volta à Terra. Acreditava que nunca tinha andado naquele transporte, mas não se tratava de uma viagem de lazer. Em vinte minutos estaria na outra margem. Começara no dia anterior o trabalho mais importante até agora. A sua investigação da vida do novo candidato já a tinha levado a discussões na firma de advogados, onde o Dr. Vaz era accionista e tinha corrido por todo o centro comercial Vasco da Gama, onde Leonardo trabalhára como segurança. Perseguira o chefe de segurança por toda a superfície comercial, como um cão de fila, enquanto tentava arrancar alguma informação útil, o que não fora fácil, porque dificilmente aquele homem se lembrava de nomes e caras, dos seus funcionários. O máximo que ouvira da boca dele fora "cumpria horários" e "era muito pouco falador".
Agora ali, com uma ligeira sensação de mal enjoo, apenas pensava chegar à margem sul do Tejo. Tinha hoje pela frente uma investigação mais sentimental. Iria vasculhar as relações amorosas e as relações com os velhos amigos, que felizmente eram poucos. Não se sentia à vontade, principalmente em relação à parte do coração.
Marcára um encontro com a primeira "namoradinha" para um almoço, por volta da uma da tarde num restaurante no centro da cidade do Barreiro. Iria começar ali a tortura lamechas de Sofia. Já imaginava cenários opostos, mas sempre concisos, ou todas o amavam ou todas o odiavam. Por ela esperava o segundo cenário, mas pela primeira vez pensou que por ele, esperava que tudo corresse como previsto.
Já passava da hora marcada, quando finalmente Sofia encontrou o maldito restaurante. Esperava-a uma rapariga elegante, morena e muito prática. Realmente, fazia todo o género de Leonardo. Reconheceu-a através de fotografias antigas que ele lhe dera. Não sabia como começar a conversa, mas alguma coisa iria ter de inventar, não poderia-lhe dizer quais as verdadeiras intenções.
- Boa tarde! Inês, não é verdade?!
- Sim. Deve ser a Sofia Martins! Boa tarde!
- Como disse ao telefone...
- Gostava de informações sobre o Leonardo Alves. Desculpe pela interrupção, mas achei bastante estranho...
Sofia gelou.
- Sim, é verdade. Talvez ache um pouco estranho. Bem eu trabalho para uma seguradora que por sua vez trabalha para a firma de advogados onde o Leonardo está empregado. - continuou - Como deve calcular, nós temos de averiguar alguns dados, principlamente em relação ao carácter da pessoa que vamos assegurar, como cadástro, saúde e isso obriga-nos a interrogar algumas pessoas da vida de Leonardo Alves.
Sofia esperou petrificada a reacção daquela rapariga que se encontrava à sua frente. Por momentos pensava que não tinha conseguido convencê-la com aquela mentirinha inocente.
- Entendo... que susto! Devo dizer que estava reciosa que o Leonardo tivesse metido em alguma confusão.
- Ele é rapaz de se meter em confusões?
- Não, não, que ideia! Sempre foi muito ajuizado e devo confessar que foi isso mesmo que fez com que eu acabasse com ele. A vida tornara-se monótona! - sorriu.
Conversaram durante duas horas e Sofia ouviu atentamente cada frase que Inês dizia. Achava que aquela mulher gostava muito de Leonardo e tinha-o como um amigo. Previa que os seguintes encontros com as restantes mulheres da vida dele iriam ser idênticos.
Sofia tinha o dia preenchido com lanches e cafézinhos com mais três jovens mulheres, Mariana, Laura e Beatriz. O discurso era idêntico, as reacções eram as mesmas. Nada de novo. Bem poderia colocar todas aquelas mulheres numa sala fechada e nenhuma se zangaria com a outra. Todas ultrapassaram a relação com Leonardo e viam nele um bom amigo. Sofia conseguia apenas estranhar.
A mais difícil de encontrar era sem sombra de dúvida Carolina. Mudára-se da margem do Tejo para a margem do Douro. Vivia agora no Porto e Sofia marcára com ela uma reunião para dali a dois dias. O que a esperaria? Pensava que iria ser mais um discurso caloroso e apaixonado. A última relação de Leonardo. A mais recente.
Sofia acabava a sua jornada com algumas respostas e apenas com uma pergunta. O que Carolina lhe reservava?

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