terça-feira, 6 de novembro de 2007

Quinto Capítulo

Se os nervos provocassem tremores de terra, naquela sexta-feira a zona centro do país tinha alcançado o pico alto na escala de Ritcher. O Tejo teria sido sugado para o interior do globo terrestre. Lisboa e Barreiro, eternos namorados teriam sido o epicentro do desastre. Sofia e Leonardo ainda não se haviam cruzado e já partilhavam sentimentos e receios.
Como de costume Leonardo lenvantárasse cedo, embora nesse dia tivesse tirado folga, não por assim desejar, mas por opcção do Dr. Vaz que tratou de tudo no emprego. Assim iria aproveitar. Tinha de estar no bairro do Beato às três da tarde, até lá poderia ter um tempo só para si. À quanto tempo isso não acontecia. Nem tinha memória de tal.
Depois da corrida matinal pelo parque, comprou no quiosque do Sr. António, o jornal de desporto para ler as desgraças do seu clube de futebol do coração. Desde que se lembrava que gostava daquele clube. Era das poucas lembranças que tinha do pai, quando levava-o ao futebol para assistir aos jogos. O dinheiro não dava para muito, mas ele adorava aqueles momentos passados a dois. Tinha passado apenas alguns dias do último jogo que viram juntos, quando o pai abandonou o lar. Nunca mais falaram um com o outro, embora soubesse que se tinha juntado com uma mulher mais nova e tido duas filhas. A mãe sofreu muito, mas refez a vida com um homem bom que acabou do criar. Assim anos depois nasceu o Tiago.
Parou junto ao café da esquina para tomar o pequeno-almoço. Não costumava comer muito, mas sabia-lhe bem o café cheio com o bolo de arroz. Ficou algum tempo a ler o jornal e pôs-se a caminho de casa para tomar o banho merecido.

Sofia acordára bem disposta e resolveu encontrar-se com a irmã mais nova, Filipa, para tomar o pequeno-almoço. No dia seguinte faria anos, mas não estaria com ela, por isso resolveu dar-lhe o presente antecipadamente. Da última vez que se encontraram, Filipa reparou numa mala castanha muito bonita na montra de uma lojinha e Sofia pensou em oferecê-la. Com uma ajudinha da mãe pôde-lhe comprar a mala e um cachecol com flores lindissímo.
Passava das dez da manhã quando Filipa juntou-se a Sofia numa pastelaria da baixa Lisboeta. Como de costume, o regime de Filipa não a deixava deliciar-se com um docinho e optou por um pequeno-almoço light, sumo de laranja natural e uma sandes de fiambre. Sofia era o opsto, como sempre, escolhera um pastel de Belém, ainda morno e um café com leite. Era gulosa e dietas não era com ela. Conversaram ainda uns largos minutos, até Sofia a surpreender com os presentes. Depois separaram-se. Nunca foram pessoas que falassem como velhas amigas e de assuntos sérios de família. Filipa era fúctil e os seus temas favoritos eram sempre os do estilo das revistas cor-de-rosa. Sofia sempre achara que Filipa e Clara se dariam às mil maravilhas. Por essa mesma razão, nunca entendeu como se dava tão bem com Clara, aliás, melhor do que com a sua própria irmã.
Sofia resolveu passar pelo mercado e comprar algumas frutas e verduras que lhe faziam falta. Adorava cozinhar. Modéstia à parte, era óptima cozinheira e cozinhar funcionava também como uma terapia. Era melhor e mais barato do que psicólogos, pensava.
Já passava do meio-dia quando finalmente entrou em casa e tinha apenas algumas horas para se arranjar e chegar pontualmente ao encontro marcado com André e o Dr. Santos Vaz.

Batia a uma da tarde quando Leonardo saiu de casa em direcção à estação fluvial para apanhar o barco para a outra margem. Tinha de chegar a horas ao Beato. A primeira impressão é tudo, pensava. Vestiu-se como pensava só se ter vestido algumas vezes para ocasiões especiais, casamentos e funerais. Não era um homem que gostasse de usar gravata, mas hoje por excepção usava uma em tons de cinzento e prata. Era elegante, usára-a pela primeira e única vez no baptizado do Tiago. Adorava aquele irmão e por ele fazia tudo. Sacrificios e até ir a uma reunião completamente às cegas. Aquela história não lhe agradava.
Chegou cedo a Lisboa e resolveu passear um pouco para esticar as pernas até chegar o autocarro 759. Quando finalmente chegou o transporte, entrou.
Faltavam vinte minutos quando chegou ao local marcado na zona do Beato. Belo bairro, pensou, mas não gostaria de viver ali.
Era uma vivenda de r/chão e primeiro andar. Antiga, talvez construída antes do 25 de Abril, na época de Salazar. Uma moradia transformada em base de operações. Muitos começaram em piores condições.
Leonardo tocou à campainha, entrou e foi recebido por um homem elegante e simpático. Apresentou-se, braço direito do Dr. Vaz, André Ferreira.
Sentou-se numa saleta agradável, onde várias pessoas entravam e saiam numa correria.

Como desejava, Sofia chegou às três horas em ponto à sede do futuro do país. Uma casa simpática junto a uma escola na zona do Beato. Pensou em como nunca tinha passado ali antes, o que era estranho. Reconheceu André no meio da azáfama e falram como se se conhecessem à meia dúzia de anos. Foi simpático e mandou-a aguardar na sala ao lado. Ao entrar reparou num jovem atraente que transpirava de nervosismo e demonstrava pouco à vontade. Conteve-se e sentou-se numa cadeira junto à janela, pegou numa revista e folheou-a.

Tinham passado breves instantes até André, acompanhado do Dr. Carlos Santos Vaz, entrarem na saleta. O primeiro fez as apresentações.
- Leonardo, apresento-lhe a nossa nova colaboradora... Sofia Martins!
- Sofia, tenho a honra de lhe apresentar o futuro Presidente da Républica Portuguesa... Leonardo Alves!
Leonardo e Sofia olharam-se espantados e tal, um como o outro, não conseguiam exprimir qualquer som ao tentarem falar.

Sem comentários: