quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Sexto Capítulo

A surpresa e a admiração inundava a sala direita do piso térreo. As faces daquelas quatro almas demonstravam sentimentos opostos de espanto, incredibilidade e ambição.
Sofia e Leonardo encontravam-se em estado de choque por tamanha incredibilidade por parte dela, e por uma enorme vontade de fuga pela a aberta entre os outros dois homens que vislumbrava pelo canto do olho, pela parte dele. Fugir daquele manicómio era só o pensamento que enchia a cabeça de Leonardo. Como poderiam pensar que ele seria Presidente da República? Senhores estudiosos, com diploma e Dr. no nome... como ocorreu-lhes tal coisa?!
Apenas dez minutos tinham passado que parecera uma eternidade, até o advogado interpolar aquelas pessoas surpreendidas.
- Que cara, meu caro! Não viu um fantasma! Pelo menos creio que acordei vivo! - riu enquanto fazia o gesto de quem procura a pulsação.
- Sofia, querida, vamos falar para a minha sala enquanto o Dr. Vaz fala com o Sr. Alves. - disse André.
Sofia nem deu por se mover e seguir André. Sentia-se dormente, adormecida ainda do choque. Como? Pensava continuamente. Como poderiam pensar?
Quando veio a si Sofia já se encontrava sentada numa cadeira confortável. O escritório era airoso, bem decorado a cores quentes e neutras. Estilo japonês onde reinava o vermelho, o branco e o preto. Achou-o a cara de André. Transmitia serenidade ao contrário de todos os que outrora tinha frequentado. E de calma era tudo o que necessitava agora.
- Não esperava que reagisse assim, Sofia! Nunca pensei que se chocasse ao ver o nosso candidato.
Até aquele momento Sofia não havia pensado muito, apenas tinha ficado surpresa. Mas agora que caira em si, sorria.
- Que susto, André! Por momentos acreditava nessa história... Um homem daqueles, rural, virgem de qualquer consciência política, um candidato. - fez um sorriso invergonhado e continuou - Uma partida para a novata!
- Pensa que estávamos a brincar consigo?! Então brincámos com todos. Porquê não ele? É um homem humilde de quem ninguém ouviu falar e de quem ninguém sabe nada. O Dr. Vaz escolheu bem!
- De quem ninguém sabe nada e de quem nem nós sabemos nada! Aquele homem pode ser um vigarista ou um maluquinho, que nós nem sabemos. Já pensou nisso?
- Ele trabalha, ou melhor trabalhava na firma do Dr. Vaz, como estafeta. Lá nunca trabalharia um vigarista ou uma pessoa com problemas, digamos psicológicos. Tenha calma, Sofia! Tem de ter fé!
- Ter fé num homem que não conheço de lado nenhum e que pode muito bem ser um espião de outro partido?! Nem mesmo em Deus eu tenho essa fé...
- Não exagere! Cuidaremos de averiguar e descobrir tudo sobre ele. E espero que me ajude nessa missão. O seu faro jornalístico e a sua capacidade de investigação vão ser muito úteis neste caso.
- Foi para isso que me contratou, não foi?! Pois aqui me tem. Mas depois quando descobrirmos algum passado obscuro do nosso "candidato" não se venham queixar.
- Que péssimista!! - sorriu.

No lado oposto da "base de operações", Carlos tentava acalmar um jovem enervado e em quase estado catatónico.
- Eu... eu... eu... Presidente?! Está tudo doido. - balbuciava Leonardo.
- Acalme-se. Quando olhei para si, transmitiu-me confiança. Acho que escolhi bem e acredite, tinha muito por onde escolher e recusei todos. Só me apareciam "meninos do papá", que nasceram em berço de ouro e que nunca lutaram na vida por nada. Só de ouvir a mesma história, onde só mudavam os personagens, adormecia de tédio. Sempre a mesma lengalenga, nasceu ali, estudou acolá, formou-se naquilo e trabalhava com ........ querido paizinho. Você votaria num homem destes? Que nem sabem falar sozinhos. Sem ideias próprias.
- O Sr. Dr. não percebe. Eu não percebo nada de política. Nunca desejei nada disso para mim. Só tenho o 9º ano.
- Exactamente. Eu posso ensinar-lhe e além disso você é um homem igual aos homens comuns da população. E toda a gente sonha com dinheiro, fama, poder... Você terá tudo isso.
- Se for eleito!...
- Quando for eleito, pois eu estou certo que faremos uma óptima equipa.
- Assim como pensam os outros partidos e os seus candidatos.
- Acredite em mim, meu caro. Nós vamos vencer com uma perna ás costas. É só descobrir os pontos fracos e atacar. É só saber conquistar a maioria! - sorriu.
Leonardo sentiu-se desfalecer, embora soubesse que não haveria se mexido. Não sabia o que argumentar mais. Não sabia como convencer aquele homem que estava errado, que ele não era homem para aquilo e muito menos o candidato perfeito.
Pouco depois chegaram ao escritório, André e Sofia, e após o breve silêncio constragedor, os três rodearam Leonardo preparando-se para atacar como um leão ataca a sua presa. O grande desafio iria agora começar. O interrogatório exaustivo iria iniciar-se e o "prisioneiro" não tinha por onde fugir.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu também ficaria espantada se me dissessem q o proximo candidato era um estafeta, mas espero que o Leonardo me venha a surpreender